Thais Sauaya nasceu em 11/06/1959 e hoje completaria 65 anos. Em sua memória, reproduzimos texto do escritor Daniel Brasil, publicado em seu blog, Fósforo, em 26/06/2009, três dias após a morte dela, em um acidente automobilístico na BR-050, em Uberaba-MG. Thais foi companheira do editor Sergio Alli e é autora da Terra Redonda, que publicou postumamente seu livro "Aloysio Biondi: Resistência ética e grandeza no jornalismo".
Hoje quero falar de uma amiga que se foi. Daquelas companheiras de vida e luta, de embates e festejos, de tristezas e alegrias. Conheci… sei lá como a conheci! Há uns dez anos, mas parece que sempre fez parte de minha vida, nos botecos do Butantã, na militância política, nas festas que organizava. E como era festeira!
Não consigo lembrar de outra pessoa que mereça, de forma tão plena, os adjetivos de generosa e entusiasmada. Thais foi (dói usar o verbo no passado) daquelas pessoas que eram, nas palavras de Zé Eduardo Cardozo “um tipo muito precioso e raro de ser humano, desses que recolhem a bandeira caída no campo de batalha, já desbotada, convencem todos da necessidade de recosturá-la e a transformar novamente em num belo estandarte.”
Agregadora é uma boa palavra para definir Thais. Militante de esquerda, crítica em relação aos desvios e desmandos do PT que ajudou a fundar, encontrava tempo para reunir os amigos e fazer festas memoráveis, onde conseguia o milagre de reunir simpatizantes do PSOL, PCdoB, PSTU e PT (direita não, felizmente) sem que rolasse sangue entre as partes. E ainda preparava petiscos de tirar o chapéu, a começar por uma carne louca sensacional, que salvou a vida de muito alcoólatra desnutrido. Fiquei sem a receita, mas um dia ainda faço uma igual!
Comidinhas árabes então, nem se fala. Trazia o peso da família Sauaya no sobrenome, e honrava as tradições. Contestando todas, porque a vida era pra ser vivida, e não obedecida de cabeça baixa. Lição que seus filhos, Pablo e Sofia, certamente saberão levar em frente.
Há muitos anos não ia ao Crematório da Vila Alpina. Fui lá queimar uma sogra, nos anos 90. Ontem à noite, surpreendido pelo frio (alpino?) em pleno final de verão, revi amigos de muitos anos. Mais de 300 pessoas deram a dimensão de como Thais era querida. A ex-química que se formou em jornalismo continua agregadora, mesmo depois do acidente fatal na BR-050, voltando de Brasília. Seu companheiro Sérgio Alli, destruído por dentro, recebeu o carinho dos muitos amigos que souberam cultivar nos anos em comum.
Thais não ligava para igrejas ou religiões. No adeus final, sem padre ou missa, a filha escolheu uma de suas músicas preferidas. E rolou Luiz Melodia! Quando ouvi a voz do negão cantando “O por do sol/ vai revelar brilhar de novo o teu sorriso”, não agüentei, e chorei feito criança.
A última imagem que tenho dela divido agora com vocês (foto acima). É de fevereiro de 2009, na gloriosa Vai Quem Quer, onde pulava por quatro dias seguidos, sob chuva ou estrelas. Beijo, Thais!
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Daniel Brasil é escritor.
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