Passaram-se duas semanas desde que cheguei a São Tomé mas sinto que carrego a leveza de um mês nas costas. Talvez seja esse estado de espírito a que chamamos léve-léve, ainda não entendi... Mas sei que foi o tempo necessário para compreender que este movimento é intrinsecamente decolonial, não apenas pela investigação que me trouxe aqui, mas porque tento recuperar o tempo, o espaço e as pessoas que o colonialismo me retirou. Além de observar, registar ou teorizar sobre esta história, vim para preencher uma lacuna da minha própria memória. E não há nada de exótico nesta ilha tropical. Exótico foi ver sempre quem viajava à casa dos avós nas férias de Natal. Falar sobre escravatura, oratura e libertação é contar a minha história de violência e acreditar que ser livre pode ser uma verdadeira opção de existência. E esta tem sido a minha expressão predominante desde que cheguei: um misto de potencial felicidade, ânsia de verdade, uma pitada de leveza e uma profunda tristeza, com a esperança que tudo isso se transforme (também) numa tese...
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Raquel Lima é poeta, autora do livro Ingenuidade Inocência Ignorância, vendido no Brasil com exclusividade pela Terra Redonda Editora.
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