Autor considera que "a melhor maneira de transmitir conceitos a respeito de Deus está em sugerir, mais do que em explicar".
Tito Kehl
Sinto o maior respeito e admiração pelos teólogos, esses intelectuais de rara estirpe que são capazes de colocar em palavras exatas e raciocínios impecáveis os conceitos referentes à divindade. Dentro do Cristianismo do Oriente, também chamado de Ortodoxia, os teólogos sempre desfrutaram de enorme prestígio, desde o maior de todos, São João, a Águia de Patmos, e chegando até às novas gerações, dentre as quais se contam gregos, russos, romenos e muitos outros. Eles são capazes de definir com clareza conceitos extremamente complexos, como o filioque, a processão do Espírito Santo a partir do Pai – e não a partir do Pai e do Filho, como quer a Igreja do Ocidente.
Apesar de ter lido, traduzido e estudando inúmeros autores, desde o século II até a era atual, não me sinto em condições de discorrer, do modo como o fazem os teólogos, sobre o menor dos temas por eles tratados. E, na verdade, tenho um motivo adicional para essa hesitação. É que, do meu ponto de vista, a melhor maneira de transmitir conceitos a respeito de Deus está em sugerir, mais do que em explicar. Isso porque acredito ser preciso deixar espaço para que as pessoas consigam colocar em seus próprios termos as ideias que são expostas dessa forma. Por essa razão, optei por expor minhas considerações teológicas por meio da poesia.
Somente a poesia traz consigo essa possibilidade de sugerir, mais do que explicar, e de conduzir o leitor a uma aventura própria em meio às ideias que vão sendo alinhavadas. Não sou grande poeta. Minhas rimas, quando existem, são pobres, minha métrica é irregular, meus versos não têm nenhuma estrutura reconhecível. Penso que, da poesia, empresto apenas a liberdade de expressar-me como me dirige a musa, num passeio algo errático, mas cheio de paisagens capazes de atrair o olhar do viajante.
Apresento um Deus, talvez um pouco inesperado, talvez até herético numa certa medida, mas um Deus sincero, que busco aproximar da gente real do nosso mundo, que percebo buscar uma espiritualidade nova, ainda que firmemente fundada sobre os princípios clássicos da Teologia Ortodoxa. Deixo ao leitor que desfrute desse Deus, e espero que lhe seja simpático. Espero que ele desperte o sentido do amor nas pessoas, pois e o amor, simplesmente, que constitui o cerne da mensagem de Cristo. Um amor profundo, que vem das entranhas, capaz de transformar as pessoas e infundir nelas uma nova visão sobre a existência que levamos sobre esse pobre planeta.
Desejo uma boa leitura, e espero não ter cometido demasiados erros. Se o fiz, conto com a justiça de Deus para me corrigir, essa justiça que é, acima de tudo, misericórdia, e que esquece, releva e perdoa as bobagens que nós, seus filhos, repetimos incansavelmente.
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Tito Kehl (Luis Augusto Bicalho Kehl) nasceu em 1953, e, em 1979, formou-se arquiteto pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. De formação originalmente católica, esse desenvolvimento laico lhe deu uma visão humanística diferenciada do homem e da sociedade, que, mais tarde, iriam infl uenciar o modo como viria a entender a Teologia Ortodoxa, religião que abraçou em 2008, vindo a ser ordenado Presbítero em 2017, pela Ordem Ortodoxa Hospitalar Sanjoanita. Além de sua atuação como arquiteto e urbanista, trabalhando principalmente junto a comunidades necessitadas, e também com projeto e construção de equipamentos públicos, como escolas, creches e postos de saúde, Tito Kehl se dedicou à literatura, tendo escrito e editado diversos livros.
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