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O Jeep

Por Sergio Papi


- Não entra no quarto! Deixa o teu pai descansar. Véspera do golpe, eram tempos de racionamento. Meu pai tinha ido a São Cristóvão encher um galão, um garrafão enorme de vidro, com gasolina. O velho Jeep bambeou numa curva, o galão rodopiou até se espatifar. Sorte ele conseguir escapar antes do Jeep pegar fogo. A visão de meu pai inflamável não seria menos terrível do aquele corte abrupto no seu braço. Hospital, não sei quantos pontos. Quando chegou em casa, minha mãe preparou a cama, amigos vieram vê-lo. - Foi uma porrada violenta, contava com certo orgulho, no braço direito a bandagem que cobria a incrível cicatriz. - Sorte você ter escapado do fogo, disse o Campello. Depois que os amigos saíram, minha mãe apagou a luz do quarto. O acidente fez reviver a malária; contagiou-se quando de uma de suas viagens à Januária para caçar veados. Meu pai tremia e batia os dentes. - Me traz uma cachaça! Um gole da Cariacica era o único remédio eficaz para dar conta da tremedeira. Às vezes sinto isso, uma tremedeira inexplicável, eu que nunca peguei malária... Que estranha herança... A porta do quarto fechada, eu só ouvia os grunhidos. Olhei para minha mãe e comecei a chorar. - Deixa disso, menino! Seu pai vai ficar bom logo... - Eu sei mãe... Mas e o Jeep?


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Sergio Papi é escritor, ilustrador, designer e artista plástico. É o principal autor da Terra Redonda Editora, tendo publicado nesta casa os livros "99 histórias" e "200 palavras". ilustrou os livros "Elas usam pele de leão" e "A outra".

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