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Homo sapiens ou homo stupidus?

Ignácio de Loyola Brandão, na apresentação de "Colapso: Narrativas do Antropoceno".


E se um dia, de repente, descobrirmos que nossa carne, nossa pele, estão desaparecendo, substituídas por plástico?


E se a certo momento descobrimos que as minhocas estão se transformando em uma praga mortifera que desparecerá com tudo? Já não existem os Javaporco, mix de porco e javali, animal que devora tudo que vê plantado à sua frente, de tal modo que sua caça é autorizada pela lei?


O que será o mundo do futuro?

Imaginei, por 40 anos, que meu romance distópico “Não verás País Nenhum” vagaria solitário pela literatura. Não, não está mais sozinho.


Nesta antologia bastante diversa (tem até o clássico Machado de Assis) a questão sustentabilidade vem aliada em ficções admiráveis, trágicas, irônicas. O que estamos fazendo com a terra? Mais do que isso, conosco, com nossa vida? Temos futuro? Em minha longa carreira, pela primeira vez deparei com uma antologia de contos distópica.


Nestes textos (tem até Machado de Assis, quem diria?) deparamos um conjunto de histórias, cada uma com uma timing, mas todas ligadas ao meio ambiente, ao desenvolvimento. Uma delas, a do fio que sai da ponta dos dedos e se estende por dezenas de páginas é um luminoso mini romance sustentável.


Textos curtos e incisivas, dramáticos alguns, de sutil humor outros, mostram uma unidade, a da fragilidade de nossa sobrevivência. Podem parecer ficção cientifica de boa qualidade, mas são ficções politico-burocráticas, com o dedo apontado para este nosso caminhar auto-destrutivo. Juntem-se a isto a proliferação do ser humano que já está em oito bilhões sobre a terra e continua a aumentar.


Trata-se do homo sapiens ou do homo stupidus?


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Ignácio de Loyola Brandão, natural de Araraquara (SP), é contista, romancista, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras. Possui vasta e premiada produção literária. É autor desta apresentação do livro "Colapso: Narrativas do Antropoceno", lançado pela Terra Redonda

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