Telma Scherer, 17/11/2021
Alerta: contém ironia, poesia, dança e citação, mas não é textão e não tem explicação.
A segunda adolescência acabou. Já tenho uma bicicleta, a segunda que comprei, a melhor que eu quereria. Pedidos de casamento podem ser formalizados inbox, mas não serão apreciados se começarem com "oi tudo bem" (assim, sem pontuação, nem continuação). O sinal de que a segunda adolescência acabou é a ausência de "ou" em todas as frases. O "e" de "existo" é o "e" invertido, o de "existe um(a) e a ao menos um(a)". Sei que existem mais, e tantas. Saber que existem mais tantas é sinal de que a segunda adolescência foi bem vivida. O "e" de "existo" não vem acompanhado de ponto de exclamação. As exclamações ficaram antes do final da segunda adolescência, o que quer dizer que o "existe um(a) e um único(a)" perdeu a validade. A primeira adolescência é o eterno retorno, sempre avança e alcança. O princípio da bicicleta é a roda. A primeira adolescência sobrevive, vive, bi-implica e não implica. Dedução não é a solução. Os mares nunca navegados têm o peso das cobranças e da dor nas costas. Hoje eu viro cambalhota com facilidade. Minha segunda, minha quarta são as melhores que já tive. Ainda assim, não sei se ainda posso aprender certos giros. Nunca soube ser terceira. A terceira, como o terceiro, foram excluídos muito cedo. Toda a história da minha história é incluir os excluídos, sem contradição. Existe um "x", tal que "pára tudo!". Estou sempre farta do lirismo. Todos os ritmos, todos os roubos, sobretudo aqueles que incomodam os incluídos. Repetir, repetir, até incluir o diferente. Incomodar pela inclusão é questão de estilo. Todas as barbaridades, sobretudo as de Cassandras. Vai ver se estou na escuna. Não estou. Dei o dote, dei o bote, odeio toda forma de boicote que se dá pelas costas. Vou de frente. Me aguente, que o santo é forte, e ela canta, a minha santa. Fui na esquina caçar nazi no bico do grito, que eu não cheiro e não chuto e vivo na nazilândia. No entanto, sou calçadas. Mordo o que posso. Não possuo heranças. Atiro para todos os lados, faço todas as danças. E ela, então? Caça, caça, vai caçando, minha criança, pra ver no que é que dá. Disse tanto que a barra pesou, que perdeu até a voz. Mas tem avó. A vida afônica, como a formiga atômica: uma questão de lógica formal. Eu me orgulho de ser quem me tornei, apesar de girar o torno só amanhã. O entorno é torpe, mas a vida urge e isso não é um decreto, nem tampouco uma equação. Pedidos de explicação serão apreciados, mas não devem ser formalizados, sob pena de pesar a barra outra vez. Hoje em dia, compra-se de tudo, até um bom momento. Só não se compra o casamento, que era a dívida consagrada. Hoje, de roda em roda, não se diz mais: "oi, tudo bem?". O bom e o belo, o belo e o meu bem são questões de cala-e-caga-a-tia. Mas a beleza mora, mora especialmente onde é calo e Kahlo, um conceito vago esse do belo-e-bom. O quando é todo o momento que não se pode comprar. A terceira adolescência ainda vem, é a do ser Esfinge, ou seja, ser assim como quem finge. Pedidos para cruzar a cidade também podem ser feitos no inbox - mas, antes, é necessário responder à charada. Que bicho é a mulher?
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Telma Scherer, poeta, escritora, professora de Literatura, é autora da Terra Redonda, onde publicou Squirt e O Sono de Cronos.
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