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Astros para sempre

Maurício Stycer


Há duas formas de usufruir da leitura deste ótimo "Astros em Trânsito", de Gabriel Priolli. A primeira, e mais evidente, é a oportunidade que esta coletânea oferece ao leitor de relembrar ou conhecer melhor alguns protagonistas da história da televisão brasileira, de Gugu Liberato a Ratinho, de Walter Avancini a Boni, passando por Hebe Camargo, Chico Anysio, Luciano Huck e muito mais.


São 35 textos agrupados segundo um critério original — o lugar que estas figuras ocupavam no firmamento do universo das celebridades no momento em que foram objeto do olhar do autor. São cinco estes estágios: o início da carreira, o período de brilho, o de instabilidade, o de descida e o fim.


Com esta organização, Priolli quer lembrar que todos os astros da televisão passam por períodos de fulgor e de eclipse, e têm as suas trajetórias acompanhadas pelos espectadores do início ao fim. No que é a chave para a segunda forma de fruir a leitura deste livro, ele acrescenta que este “trânsito celeste” afeta igualmente a trajetória de um outro grupo de profissionais: “A metáfora vale também para os jornalistas especializados em televisão, como o que eu fui durante metade da minha carreira, de 1980 a meados dos anos 2000, quando atuei como repórter, editor, crítico e colunista da área”.


Astros em Trânsito ajuda a entender a importância de Priolli para as discussões sobre televisão aberta no Brasil ao longo de um período essencial, no qual a Globo reina como líder incontestável, mas os seus concorrentes oferecem diferentes alternativas de programação. Priolli se mostra muito atento a um momento de transição do plantel de apresentadores, uma figura que ocupa uma centralidade cada vez maior na TV. Os seus textos registram novos nomes surgindo e outros dando sinais de cansaço.

Também discute, por meio de entrevistas, críticas e reportagens, a permanência das novelas, o revigoramento dos talk shows e a modernização do telejornalismo.


O livro ajuda, ainda, a visualizar um aspecto do trabalho de Priolli que me encanta especialmente, que é o seu olhar aberto, sem preconceitos, a todos os tipos de programas e de figuras que formam esta constelação que é a televisão brasileira. Mais do que isso, os textos transparecem a sua genuína curiosidade pelo que é diferente do seu gosto pessoal. Ao mesmo tempo, seja como repórter, seja como crítico, muitas vezes fazendo as duas coisas simultaneamente, Priolli nunca perde de vista o mais importante: o olhar questionador.


Em cerca de cinco décadas de atividade, Priolli jogou em quase todas as posições da televisão — acho que só não foi ator. Além de crítico e repórter, também foi editor e colunista em diferentes jornais e revistas. Atuou como repórter, apresentador, editor e diretor em diferentes emissoras de TV. Foi professor de jornalismo e dirigiu canais universitários. Trabalhou ainda com comunicação política. E escreveu uma penca de livros e artigos sobre este universo, com destaque para a O Campeão de Audiência, biografia de Walter Clark e A Deusa Ferida, do qual é coautor, que registrou as primeiras oscilações no poderio da Globo.


Este livro, enfim, retrata apenas uma pequena parcela do seu trabalho. E, diferentemente do que sugere a metáfora do “trânsito celeste”, deixa claro que a carreira de Priolli como jornalista especializado em televisão segue dando frutos, na medida em que é um inspirador para inúmeros profissionais que vieram depois.


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Maurício Stycer é repórter e crítico do portal UOL, e colunista da Folha de S.Paulo. Este texto é o prefácio do livro "Astros em Trânsito", de Gabriel Priolli, à venda no site da Terra Redonda Editora.

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