Por Telma Scherer
Saudades desse cabelo, que esquentava tanto quanto o casaco pesado de brechó, a bota de cano longo e a meia de lã. Era julho de 2010 e eu estava em uma escola pública de Porto Alegre, que ficava no alto de uma colina. Um frio "de renguear cusco", como se dizia. Essa escola contava com uma das equipes mais incríveis de professores que conheci nas minhas andanças. Aplicavam reiki nas crianças, mediavam conflitos com muita ternura e firmeza, buscavam formação e me acolheram com o carinho que vocês podem imaginar, pela minha cara. Falar sobre literatura com adolescentes era sempre o máximo. Eu saía renovada e cheia de fé na vida e na rapaziada. Meu papel era o de incentivar a leitura, mas era eu quem saía motivada, para a escrita e a luta. É por eles, os que estão hoje nas escolas, que eu faço tudo o que faço. Infelizmente, estão menos assistidos. A situação dos professores piorou muito, e o futuro tem sido sequestrado e escondido deles. Acontece que continuamos aqui para amar e fazer as coisas. E vamos reconstruir o futuro, aos poucos. Eu estou sentindo o mesmo frio daquela manhã, nessa noite de sexta. E, embora com 20% do cobertor-cabelo que tinha, recorro à mesma fé na rapaziada pra poder sorrir e acreditar que amanhã vai ser maior. A foto é da Danielle Lua Vermelha ♡♡♡.
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